Vitor Cafaggi autor dos quadrinhos “Valente”, “Duo.tone” e das tirinhas “Puny Parker” .
Vitor e Lu Cafaggi
Vitor e Lu Cafaggi

1 – Vitor, sempre gostei dos seus projetos e sua identificação com o mundo nerd. Seu primeiro quadrinho foi “Puny Parker”, que é uma homenagem ao jovem Peter Parker. Como começou essa ideia e de onde vinha sua inspiração para escrever sobre o futuro Homem Aranha?
O Puny é uma mistura de tudo o que eu gostava na minha infância nos anos 80. Eu lia as revistas do Homem-Aranha, as tirinhas do Calvin, assistia o desenho do Charlie Brown na TV, ia ao cinema para ver De Volta para o Futuro, Os Goonies e os filmes do Stallone.. minha inspiração vem daí, da minha infância.
O Homem Aranha é e sempre foi meu personagem favorito. Eu leio mensalmente os quadrinhos do Aranha desde que tinha sete anos. Isso me acompanhou pela minha vida inteira. Posso dizer, sem exagero, que muito de quem eu sou hoje, minha personalidade e dos meus valores, eu aprendi nas histórias desse personagem. Nas boas histórias do personagem. Fazer o Puny Parker foi muito natural pra mim. Por ter tanta identificação com o personagem, pude colocar experiências e situações da minha infancia nas tiras dele, porque sabia que ia funcionar.
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Em Puny Parker contei minha visão sobre a infância do Homem-Aranha e, como sempre me identifiquei com o personagem, coloquei muito de quem eu sou no pequeno Peter.
2 – Vi em algumas entrevistas suas que você sempre gostou de desenhar e criou o “Puny Parker” para treinar seus traços e sua narrativa. Fabio Yabu, também como você, começou na internet com os famosos “Combo Rangers”. Você acha que o mercado hoje em dia, está totalmente direcionado para os novos talentos da internet?
Verdade, quando eu comecei a fazer as tiras semanais do Puny meu objetivo principal era me condicionar a desenhar sempre. Comecei colocando as tirinhas no meu álbum de fotos do Orkut e avisei aos amigos que ia fazer uma tirinha nova toda semana. Dessa forma eu meio que me obriguei a manter essa produção semanal de tirinhas. Meus amigos mostravam as tirinhas para os amigos deles e, com o tempo, mais gente foi conhecendo o personagem. Muita gente me pedia pra fazer as tirinhas em português e, por isso, criei o blog. Até hoje, a única divulgação que fiz do blog foi em uma comunidade do Aranha no Orkut, bem no começo das tiras.
E não acho que o mercado esteja totalmente direcionado para quem se destaca na internet. Existem outros caminhos. Publicar seu trabalho na internet é só um deles. Acho que a internet é um bom cartão de apresentação. As tiras do Puny abriram portas pra mim. Com poucos meses de blog, eu fui convidado para participar da HQ Pequenos Heróis. Pouco tempo depois, O Sidney Gusman me convidou para participar do MSP50. Hoje, tenho uma tira semanal no jornal O Globo graças às tiras do Puny também. No momento em que o jornal me convidou eles já perguntaram se eu não tinha algum outro projeto no estilo de Puny Parker.
3 – Valente me lembrou muito a adolescência de vários amigos, que se veem às vezes entre duas paixões. E uma característica comum entre todos os adolescentes, é buscar por sua própria “identificação”. Percebi isso em Valente; em alguns momentos, ele é super-tímido, outros um super-nerd e algumas vezes um cara super-descolado. Você se inspirou em sua vida ou em algum amigo para escrever Valente?
Em todo trabalho que faço, coloco muito de quem eu sou, das minhas experiências, nele. Em Puny Parker contei minha visão sobre a infância do Homem-Aranha e, como sempre me identifiquei com o personagem, coloquei muito de quem eu sou no pequeno Peter. Valente é totalmente baseado na minha adolescência, sua história é inspirada na minha, a Dama e inspirada em uma menina mesmo, que existe, a Princesa também existe, outras vão aparecer.
Escolhi um certo momento, bem representativo, em minha vida e segui contando minha historia a partir daí, através de tiras com cachorrinhos, gatos, pandas e macacos.
Valente
Valente
4 – Por que os personagens de Valente são animais?
Eu gosto da idéia de quadrinhos apresentando animais humanizados, vestindo roupas, indo trabalhar, pegando o ônibus. Representando os personagens como animais eu tenho a chance de trabalhar mais as expressões de cada um. Até as orelhas dos bichos ajudam nisso! Acredito que seja um tema legal também pra trabalhar melhor a arte final, os pelos dão uma série de alternativas para as canetas, pincéis e nanquim.
Fora que, a idéia da série é apresentar a busca do Valente por uma namorada. De procurar alguém que seja parecido com ele. Desenhando animais eu posso mostrar melhor os contrastes entre ele, suas pretendentes e todo mundo ao seu redor.
5 – Como foi o convite para escrever as historias da turma da Mônica com a sua irmã? E como é trabalhar em família? (aposto que essa pergunta é clichê), mas quando cada um tem uma opinião diferente, como é que vocês decidem as ideias?
Para esse projeto da graphic novel, o convite foi feito pelo Sidney Gusman, diretor de planejamento da MSP, por telefone. Eu já tinha participado do MSP 50 (álbum em homenagem aos 50 anos de carreira do Mauricio), em 2009, com uma história do Chico Bento, que escrevi e desenhei. Essa história curta mostrando o dia que o Chico conheceu a Rosinha, teve boa repercussão e, graças a ela, fomos convidados para o projeto Graphic MSP. No caso da graphic, foi o Sidney que definiu quais personagens os autores iriam trabalhar. Não foi a gente que escolheu, mas se tivéssemos essa possibilidade, escolheríamos a Turma de qualquer jeito.
Trabalhar com a Lu foi ótimo. A gente aprende muito um com o outro, a gente conversa muito, não só sobre quadrinhos, a gente pensa parecido. Minha irmã é uma das pessoas mais inteligentes e talentosas que eu conheço, então é sempre bom ouvir o que ela tem a dizer. Na verdade, confio mais na opinião e no bom gosto dela do que nos meus. Ter mais alguém na minha casa fazendo quadrinhos, torna isso um trabalho menos solitário. Enriquece muito o produto final.
A nova versão de Chico Bento desenhada por Vitor Cafaggi
A nova versão de Chico Bento desenhada por Vitor Cafaggi